Sobre o livro

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O universo de Anna é vasto. De conhecidas paisagens paulistanas aos relatos ancestrais do fascinante universo bíblico; os personagens de Otavio Furman habitam distintas camadas. Em flashes narrativos, o autor se vale da manipulação e reorganização de uma ampla coletânea de citações, trechos de pesquisas, fragmentos da história judaica, diálogos tomados do cotidiano e excertos de tantos outros livros. Para o narrador destas pequenas peças de prosa, o mundo é um compêndio a ser inserido entre aspas. Em “A viagem”, conto que abre este volume, um médico à beira do colapso usa aquilo que lê, ouve e imagina para, desesperadamente, encontrar algum sentido no caos de sua existência. O narrador de Anna sustenta a necessidade convulsa de listar, pesquisar, catalogar.

O espectro da literatura e da criação literária também ronda essas páginas. Não se trata somente de uma reflexão sobre o ato de escrever, mas de um registro dos detalhes que entremeiam a produção de um livro. As vozes de "editores" e pessoas que opinaram sobre a própria obra que o leitor tem em mãos invadem a narrativa, vez ou outra, para, sempre entre aspas, sugerir cortes e modificações.

Este não é um volume convencional onde uma história repleta de conflitos e pronta para ser “lida” desvela-se facilmente ao leitor. Aqui, personagens enigmáticos como Anna, Hans e Ignatz, valem-se de suas vozes e das vozes dos outros para, através de uma escrita silenciosa, fragmentária e com alto teor informativo, convidar nossa imaginação a se embrenhar no universo de messias, golpistas, personagens bíblicos e, evidentemente, da própria literatura.

Otavio usou frases e temas de seu próprio cotidiano na composição dessas páginas e tomou emprestado as palavras do escritor espanhol Agustin Mallo para nos apresentá-la: “(...) algumas histórias e certos personagens foram diretamente extraídos dessa ficção coletiva que comumente chamamos realidade”.

Anna nos lembra que somos parte dessa realidade, e que na palidez cotidiana podemos sempre tomar nota de nossos “fragmentos de perplexidade”. Entre aspas.

Rennan Martens, editor.

Sobre o autor

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Otávio Furman

Psiquiatra, casado, uma filha, amigos, pacientes, editores; dois livros escritos sob forte influência de todos.

Leia um trecho

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