Visita íntima é um convite às sensações, aos desejos de plenitude cabíveis ou não no corpo físico. Poemas que versam sobre esperas, contatos e ausência. Amores incondicionalmente presos às convicções libertárias, com duração limitada e restrições.
Os poemas são apresentados como um roteiro, um guia. E vão revelando a dor e solidão de quem vive à mercê das visitas que lhe são feitas, alguém que vive à espera do ser amado enclausurado numa cela, seja de uma cadeia, ou na imposta pelos limites do tempo/espaço.
Quando assistiu o documentário “Visita Íntima”, (2005) da diretora Joana Nin, Sandra Regina, que já tinha escrito alguns poemas do livro – entre eles, o próprio Visita Íntima, percebeu que seus poemas (o livro) e o documentário tinham muito mais em comum, além da poeticidade. Ambos também podem ser vistos como um grito em defesa dos direitos da mulher na sociedade.
Instituído em 1987, o direito à visita íntima nas cadeias masculinas passou a vigorar logo em seguida; na penitenciária feminina, isso só ocorreu em 2001, após anos de insistência de grupos de defesa femininos.
No começo, uma das justificativas para a demora era o temor de que as visitas alimentassem a epidemia de aids -argumento difícil de entender, já que há mais chance de o homem contagiar a mulher do que o oposto. Na busca das razões reais, o número bem inferior de presidiárias é o primeiro fator a chamar a atenção. As mulheres somam cerca de 5% do sistema penitenciário, uma minoria com capacidade de pressão bem menor que a deles. Suas rebeliões são mais raras e muito menos sangrentas.
O preconceito é apontado como o primeiro motivo pelo qual a visita íntima no presídio feminino não "pegou". “Maridos não são solidários, como mulheres. Eles as abandonam muito mais facilmente. A maior parte das visitas que as mulheres presas recebem são de mães, irmãs, filhos", diferente dos homens.
Enquanto 75% dos presidiários do país recebem ou já receberam visitas íntimas, apenas 25% das presidiárias conquistaram esse direito até agora.
Paulo Sampaio | Revista da Folha
Sobre o documentário de Joana Nin:
http://www.sambaquicultural.com.br/projeto/visita-intima/
Sandra Regina é paulistana assídua, essencialmente passional. Embora goste de brincar com as palavras, leva-as muito a sério em seu dia a dia de revisora, e isso já tem mais de 25 anos! Formada em Letras pela FFLCH-USP, publicou, entre outros, "O texto sentido", 2008 e "Haicaos", 2012, este em parceria com o escritor Múcio Góes. Seus textos estão também no blog: feitaemversos.blogspot.com
Playlist criado pela autora, com músicas que a inspiraram e dialogam com a obra.